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A solidão!

30 Julho 2011 67.648 views Não Commentado

Antonio CasteleiroNada somos sem os outros. A interação entre as pessoas é essencial para a satisfação das necessidades de cada um. O mundo social e cultural é resultado dessa inter-relação e sem ele não viveríamos.
Quando nos sentimos sós, ficamos por isso em crise,  em grande sofrimento, porque a vida exige a comunicação recíproca entre pessoas.

No entanto, pode estar-se rodeado de gente e mesmo assim haver um sentimento de solidão. Isso poderá decorrer de uma dificuldade de comunicação ou ainda de um temor subconsciente de que se venha a ficar sem ninguém.

A maior parte das vezes, contudo, é devido a uma situação de isolamento real que o sentimento de solidão aflora. Estão neste caso particularmente aqueles que deixaram de ter parte ativa na sociedade, quer porque deixaram de trabalhar, quer porque não têm laços familiares e de amizade. Podemos incluir particularmente nesta categoria os idosos das nossas sociedades que, desinseridos de um contexto familiar, se vêm confinados às quatro paredes das suas casas ou colocados em lares e instituições, onde a interação entre os seus habitantes quase não se verifica.

O sentimento de solidão é tanto mais doloroso quanto nos afasta da possibilidade de nos sentirmos amados, o que é de suma importância para o equilíbrio das nossas vidas. Pode dizer-se que quem se sente só, não faz corrente com os demais, o que é apanágio do amor.

Enquanto dispusermos de possibilidade de movimentação, das nossas capacidades pessoais, importa prevenir este tipo de situações, obrigando-nos a manter uma vida social o mais ativa possível e criando interesses ao longo do tempo, não só porque isto suscita sentimentos de autoestima, que nos deixam mais apaziguados e com menor sentimento de solidão, como essas iniciativas constituem formas de ligação à vida, que nos deixam menos sós.

Acontece por vezes que, após a reforma, muitas pessoas optam pela total inatividade, o que leva a um corte com o dinamismo da vida, a interação com o meio ambiente desaparece provocando uma consciência de solidão. Mesmo que por força das circunstâncias a pessoa venha a ficar sem ninguém próximo, o preenchimento que fez de si próprio, através de alguma realização alcançada, permite que o isolamento não doa tanto, porque se está equipado com a força que uma tal compensação proporciona.

O problema em causa é acentuado na época atual, dada a proliferação crescente da população das cidades, onde o anonimato e o estilo de habitação proporcionam o isolamento, sendo ainda devido ao desmembramento da família tradicional, que remete muitas vezes as pessoas para uma vida só.
A solução para o problema poderia passar pela integração das pessoas em iniciativas comunitárias, onde os vizinhos se poderiam encontrar, assim como importa que as pessoas se juntem em grupos de interesses onde se relacionem, não se limitando apenas ao exercício obrigatório de uma profissão. Nos tempos livres, há que desenvolver atividades de lazer, que julgamos se incrementarão na sociedade do futuro, dada a automatização crescente dos instrumentos de trabalho, que libertarão as pessoas de um horário carregado de permanência nas empresas.

Quem sabe, se as habitações deixarão de ser uni familiares, sendo antes projetadas para acolherem várias famílias? É que o problema da solidão é de tal maneira grave na atualidade das sociedades modernas que algumas medidas terão de ser tomadas para se obviar à situação. São muitos os casos de idosos, fundamentalmente, que se encontram reclusos nas suas próprias casa, onde ninguém os visita e eles próprios estão já incapazes de se movimentarem para conversar com alguém.

O delineamento de um outro tipo de construção civil poderia apontar para a criação de habitações coletivas, onde a privacidade fosse garantida, com espaços privados, mas também o fosse o convívio com quem lá morasse, em espaços comuns.

A crise atual decorre da falta de adaptação das estruturas sociais à mudança operada em relação à sociedade anterior que, mais fechada e com laços fortes do ponto de vista dos núcleos familiares e de vizinhança, não criavam facilmente situações de solidão. Com o tempo, essa adequação será naturalmente feita, prevenindo as dificuldades presentes.
No entanto, o sofrimento que atualmente se vive, poderá de qualquer forma contribuir para um maior crescimento do ser humano, dado que desprovido este do apoio familiar que lhe garantia a segurança, sem grande esforço, terá agora de inventar a forma de se inserir em grupos de estranhos, desenvolvendo a sua autonomia. Em vez de passivamente colher o apoio que inevitavelmente tinha, presentemente terá de tomar decisões para resolver a sua própria vida.

Não se julgue com isto que se considere aceitável o desprezo tantas vezes verificado das famílias atuais em relação aos membros que se encontram sós.

 

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Este blog é um espaço de análise e opinião. Da minha análise sobre factos e coisas do dia-a-dia, e da opinião que à cerca delas vou construindo. Sobre o que escrevo, muitos dos que me lerem estarão de acordo e muitos outros discordarão. Não há mal nenhum nisso. Assim uns e outros saibam respeitar uma opinião contraria. Antonio Casteleiro.