Um “para sempre”? Um “nunca mais”?
Estive a pensar no tempo e na sua relatividade. Conceitos como “cedo” ou “tarde demais”, “para sempre” ou “nunca mais”, “só mais um minuto” ou “por toda a eternidade” são constantes na fala, no pensamento e na vida, senão de todos, de muitos de nós.
Quantas vezes não dissemos que amaríamos “para sempre” ou que não queríamos ver aquela pessoa “nunca mais”? Quantas vezes chegámos cedo demais na vida de alguém ou decidimos expressar o que sentíamos tarde demais? Pior ainda, quantas vezes desejámos sentir algo por toda a nossa eternidade e, no minuto seguinte, vimos tudo desmoronar-se como um castelo de areia?
Creio que muitas vezes. No entanto, ao refletir sobre essas situações, é possível que muitas já tenham ganho outro sentido nas nossas vidas e até nos façam rir ao recordar alguns acontecimentos. Afinal, em momentos de crise, muitas vezes tornamo-nos ridículos.
Já houve quem quase morresse de tanto chorar, fizesse greve de fome ou se atirasse de um andar, acreditando que a vida havia perdido o sentido “para sempre”.
Por que tudo isso? Porque o tempo, que dizem ser quem tudo cura, também é relativo.
O seu “para sempre” pode ser o minuto de alguém, assim como um “até breve” pode ser um definitivo “nunca mais”.
Isto tudo é realmente confuso e estranho; quero dizer, humano.
Pensar demais sobre estas questões pode causar crises existenciais, mas quando já estamos no auge de uma, a reflexão torna-se uma forma de encontrar respostas. Respostas não para os problemas da humanidade, mas para nós mesmos, para as nossas angústias e aflições, para as nossas lamentações e para aquela dor que só nós sentimos e que, por isso, é a maior do mundo.
Quando sabemos o que é prioridade na nossa vida, começamos a entender com mais facilidade o quanto o tempo é relativo.
O facto de um “para sempre” ter sido breve é doloroso para quem desejava que fosse eterno, mas para quem o tornou breve, foi apenas mais um momento. E por quê? Porque esse sentimento ou a vontade de eternizá-lo não era prioridade na vida daquela pessoa. É aqui que nos enganamos constantemente.
Acreditar que o que sentimos provoca no outro a mesma intensidade de emoções que em nós é um erro.
É mais ou menos o que aquela frase quer dizer: numa relação, geralmente um dos dois gosta mais que o outro. Pode parecer estranho, mas esse “gostar mais” não é nada mais do que a relatividade do tempo.
O facto de você querer estar a cada minuto com alguém e viver “para sempre” ao lado dessa pessoa não obriga que ela também queira ou precise ficar a cada minuto ao seu lado para estar “para sempre” com você.
Quando alguém diz que não a quer ver “nunca mais”, pode acreditar que, naquele instante, a vontade é mesmo essa, mesmo que pareça o contrário.
Contudo, esse “nunca mais” não vai durar uma eternidade, pois, a mágoa passa e você acaba por ser apenas mais um momento na vida desse alguém. E, nesse caso, tanto faz se é para ver em breve ou “nunca mais”.
Entrar sem querer na vida de alguém e ouvir dessa pessoa que você é a pessoa certa na hora errada é uma das piores coisas para um coração sensível. Então, você pensa: que situação é essa de ter hora certa para se apaixonar? A gente não manda no coração. Com certeza, você tem toda a razão, mas aí entra, novamente, o conceito de prioridade. Se essa pessoa não tiver como objetivo principal apaixonar-se, pode acreditar que, mesmo você sendo a mulher da vida dele, ele a vai deixar partir, pois acredita que, nesse momento, não é a melhor escolha ou, pior, que você pode estragar os seus planos. Então, não insista e, se um dia ele voltar, talvez seja sua vez de dizer: “agora, meu querido, é tarde demais”.
Hoje, compreendo perfeitamente isso e creio que descobri um tesouro ao entender que tudo, inclusive e principalmente o tempo, é relativo. Assim, tento não otimizar de forma extrema os meus bons momentos a ponto de que pareçam tão perfeitos que “nunca mais” irei senti-los, mas também não deixo de vivê-los, por achar que nada dura “para sempre”.
Apenas vivo. Seja por uma vida inteira ou por apenas um minuto. Vivo de forma que possa ser feliz “para sempre” ou não desejar aquilo “nunca mais”. Vivo cada instante, até que possa olhá-lo como uma lembrança que me faça chorar de tanto rir ou apenas chorar. Arrependo-me, mas vivo. Faço planos e mantenho os meus sonhos, só não deixo que eles me tirem do chão. Este é o segredo da vida: viver intensamente.
(António Casteleiro)
” Aceito os ignorantes ! Não aceito os que ignoram a própria ignorância. ” (António Casteleiro)