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As minhas memórias…

Antonio CasteleiroVamos vivendo, juntando os anos, meses, dias, horas, minutos e segundos na grande estante de memórias. Quanto mais velhos ficamos, mais relembramos os bons momentos, as aventuras e os instantes de emoção.

Toca uma música e surge uma enxurrada de memórias. Lembramo-nos de um livro, de um quarto de hotel e de tempos remotos da nossa vida. Quando calculamos o tempo, já se passaram mais de 15, 20…. anos… Vuchhh… o tempo voou…

A vida é feita de pequenos momentos gravados na nossa memória. Precisamos deles para acreditar que a nossa vida teve um certo valor e que ainda o terá. Precisamos acreditar e até confirmar que realmente existimos, e a nossa memória deve existir para isso.

É também a nossa memória que nos faz aprender ou, pelo menos, relembrar as nossas aflições ou momentos menos bons, aqueles que NÃO gostaríamos de recordar, apenas desejaríamos esquecer. Mas a memória também está aí para isso… para nos lembrar e sempre relembrar que NÃO devemos repetir os mesmos erros.

São momentos bons e emocionantes que sempre procuro colecionar. O resto está lá também, mas NÃO me dedico a relembrar todos os momentos menos bons. A vida deve ser boa de viver, e para que vou ficar a recordar factos menos agradáveis? O chato é que há pessoas que fazem isso; acho que devem até ter o prazer de se auto-torturar, lembrando-se de uma traição, de uma sacanagem ou de qualquer coisa que não vale a pena recordar. Essas pessoas amargas vivem assim. Comparo-as àquelas que têm um sapato apertado, mas não o largam, ou que colocam uma pedra para aumentar a dor.

As minhas memórias estão lá, prontas para serem recuperadas… ou quase prontas, porque algumas eu procuro lembrar e NÃO consigo, mesmo quando as pessoas dizem que fiz, falei ou vivenciei certas partes. Lembro-me de algumas coisas de forma um tanto embaçada, mas nada mais do que isso.

Infelizmente, gostaríamos que a realidade do filme Paycheck fosse verdade, onde uma pessoa muito boa em engenharia reversa é contratada para realizar grandes feitos e, depois, apagam-lhe a memória juntamente com o pagamento. Essa pessoa NÃO se lembra de nada. Quem é que não tem memórias que gostaria de apagar? Algum momento menos bom ou até um bom pedaço da nossa vida?

Somos o resultado das nossas memórias. As nossas atitudes de hoje são o resultado do que vivemos e concluímos a cada momento. Todas as conclusões são acrescentadas ao grande banco de dados das nossas ações futuras, onde procuraremos, de forma consciente ou não, continuar a viver.

Tenho memórias e a todo momento estou a relembrar. Não que eu queira sempre, mas penso que deve ser a minha capacidade de observar os detalhes e, com isso, fazer comparações. Basta ouvir um som, sentir um cheiro e pronto, já tenho muitas memórias vinculadas e, com isso, mais conclusões também.

Vivo com elas… e você? Não sou uma pessoa que diga ter tido uma vida excitante ao ponto de querer escrever um livro com as minhas memórias. Não mesmo, mas vivo com todas elas. Orgulho-me da vida que tive até agora e sei que continuarei a orgulhar-me do que faço, vivo e procuro ser.

A cada novo passo da minha vida, estou sempre a relembrar e, às vezes, inconscientemente, a procurar referências nas minhas memórias. Não faço comparações, mas elas aparecem sempre de forma automática e instantânea. Estou a caminho de um encontro de negócios… Bum… sou inundado por memórias de encontros de negócios semelhantes ao que estou prestes a ter.

Procuro viver com esta forma de relembrar e penso que todos têm a sua também. O relembrar pode também trazer um certo grau de dor e tristeza, quando nos lembramos de factos menos bons do passado, como relacionamentos passados, negócios falhados, acidentes, etc. Não podemos deixar-nos dominar pelo pavor e deixar de viver. Nenhum dia é igual ao outro; todos são diferentes e, mesmo que sejam parecidos, podemos mudar o resultado final. SEMPRE poderemos.

Nas minhas últimas memórias, relembrei momentos em que andei de moto pelo México, do Golfo a Taxco ou Acapulco, ou nos EUA, pelos caminhos da Califórnia, Texas, São Francisco e tantos outros, e quando me sentava no chão, devido ao cansaço, com algumas folhas de papel, e ficava a escrever.

Agora está a tocar New Order, e lembro-me de vários momentos em que ia com os meus amigos a

vários bares.

Momentos atrás, estava a ouvir “Auto Ban” do Kraftwerk, e lembrou-me de quando passei uns dias num hotel em Los Angeles e estava a ler um dos livros de Duna.

Cada memória que recordo faz-me sentir mais forte e bem vivido. Cada boa memória dá-me a certeza de que tudo foi válido e que vale a pena continuar firme e forte para o desconhecido futuro. Pode ser um sorriso, o soprar do vento, o cheiro do papel do livro ou mesmo o som da chuva a cair.

As minhas memórias são elas que me fazem ser o que sou, por isso NÃO posso viver ou até querer viver sem elas.

(António Casteleiro)

www.antoniocasteleiro.com

” Aceito os ignorantes ! Não aceito os que ignoram a própria ignorância. ” (António Casteleiro)