A sociedade no Presente e Futuro
Quanto mais diversificadas e numerosas forem as relações entre as pessoas, maior será a possibilidade de crescimento individual, dado que a descoberta pessoal deve ser feita mediante o confronto com outras personalidades.
A actualidade, nas sociedades mais desenvolvidas, alarga esse leque de experiências, revelando um maior impulso evolutivo ao transferir para os grupos sociais e instituições aquilo que anteriormente era incumbência estrita das famílias. Embora possa parecer uma perda de qualidade de vida, a necessidade de recorrer à integração institucional dos idosos e das crianças impele as pessoas a um convívio mais alargado do que teriam se permanecessem no estreito ambiente doméstico, onde apenas conheceriam os poucos elementos que o compunham.
Claro que esta mudança de paradigmas e modos de funcionamento envolve sofrimento, dado que é necessário ultrapassar o status quo, abandonando a segurança do conhecido para o novo e desconhecido.
A entrada precoce da criança na creche ou no jardim de infância pode ser assustadora, mas também representa uma grande oportunidade de crescimento pessoal e de constituição de reservas positivas para o futuro, uma vez que a profusão de interacções e experiências é acentuada em comparação com a que lhe seria proporcionada caso permanecesse em casa. Estes contactos alargados desenvolvem capacidades no cérebro em formação, que serão úteis na vida adulta.
Da mesma forma, o idoso que se vê perante a alternativa de ficar entre quatro paredes, sujeito a um isolamento doloroso — já que a família alargada quase desapareceu das nossas sociedades — ou tentar corajosamente aventurar-se num ambiente estranho onde outras pessoas em idênticas circunstâncias se reúnem, está a ousar e, com isso, evolui. O conhecimento que o contacto com uma ampla variedade de pessoas proporciona serve também o propósito da evolução.
Não é, pois, tão catastrófico como à primeira vista poderá parecer este novo panorama, resultante da desagregação da família tradicional. A resistência demonstrada decorre muito da transição do modelo antigo para o actual. As pessoas, habituadas a viver em núcleos de dimensão reduzida e fechados em si próprios, vêem-se forçadas a enfrentar um mundo estranho, o que assusta e provoca sofrimento. No entanto, com o passar do tempo, a proliferação de experiências colectivas e sociais será cada vez maior, e a entrada em grupos variados será frequentemente registada pela generalidade da população.
A estratificação por grupos etários que actualmente divide as pessoas tenderá, também, a desaparecer com o tempo, dado que a vida social, em todos os sectores, será de molde a fazer confluir as pessoas em actividades comuns a todas as idades, denotando uma maior proliferação de experiências, que é sinal de evolução.
Atendendo a que a globalização aponta para a localização como contraponto necessário ao equilíbrio das sociedades, futuramente as unidades económicas de carácter familiar e inseridas em núcleos pequenos serão muito mais numerosas do que as que agora existem, dada a facilidade de utilização das novas tecnologias em âmbito restrito e no trabalho a partir de casa.
Aqui, as crianças, integradas em famílias, terão um papel a desempenhar na produção comum, que complementará a sua formação escolar, sendo parte integrante da mesma. A inserção na sociedade será, assim, facilitada, uma vez que desde cedo se percebe o que é necessário para que a sociedade funcione, evitando-se, além disso, as dificuldades advindas de um contacto tardio com o mundo laboral e profissional, que agora acontece após a conclusão dos estudos preparatórios.
Por outro lado, a formação escolar acompanhará todos os cidadãos ao longo da sua vida, dado que o interesse pelo conhecimento tenderá a ser cada vez maior, independentemente da sua aplicação prática. Assim, os estabelecimentos de ensino agregarão no seu seio elementos de todas as idades.
A vida de grupo incrementar-se-á, pois, nas gerações futuras, que deixarão de ficar confinadas às suas famílias e amigos restritos, passando a relacionar-se com os elementos dos conjuntos por onde passam, constituídos com base em interesses comuns, que se definirão a partir daquilo que cada pessoa for descortinando na sua vida pessoal e que considere importante. Dado que a intervenção pessoal será tendencialmente cada vez mais autónoma e criativa, a descoberta de interesses próprios será um investimento natural, originando a constituição de iniciativas de toda a ordem.
A imigração e a diversidade cultural desempenharão um papel fundamental na formação de sociedades mais ricas e inclusivas. À medida que pessoas de diferentes origens se estabelecem em novas comunidades, trazem consigo tradições, valores e perspectivas únicas que enriquecem o tecido social. Esta pluralidade cultural não só promove a tolerância e a compreensão mútua, mas também estimula a criatividade e a inovação, uma vez que a fusão de diferentes ideias e práticas pode levar a novas soluções e abordagens para os desafios contemporâneos.
A convivência entre culturas distintas pode resultar em um ambiente social mais dinâmico, onde as pessoas aprendem umas com as outras e desenvolvem um sentido de pertença que transcende as fronteiras nacionais e étnicas. Este fenómeno pode ser observado em áreas como a gastronomia, a arte e a música, onde a mistura de influências culturais cria novas formas de expressão que refletem a complexidade da sociedade moderna.
Além disso, a diversidade de origens e experiências pode contribuir para o desenvolvimento económico, uma vez que a variedade de habilidades e conhecimentos pode impulsionar a inovação e a competitividade. As empresas que abraçam a diversidade cultural tendem a ser mais adaptáveis e a ter uma melhor compreensão das necessidades de um mercado globalizado.
Por fim, à medida que a sociedade evolui, a interconexão entre culturas e a partilha de experiências tornar-se-ão cada vez mais essenciais para a construção de sociedades coesas e resilientes. A capacidade de dialogar e colaborar com pessoas de diferentes origens será uma competência fundamental no futuro, permitindo que as sociedades enfrentem os desafios globais de forma mais eficaz.
Em suma, conforme o mundo se transforma, maior será a complexidade das experiências a que a colectividade se vê sujeita, em resultado de uma sinergia de factores, de natureza individual e social, que se relacionam entre si, incrementando-se reciprocamente. A integração de diversas culturas, a evolução das relações sociais e a adaptação às novas realidades serão pilares fundamentais para a construção de um futuro mais inclusivo e harmonioso.
(António Casteleiro)
” Aceito os ignorantes ! Não aceito os que ignoram a própria ignorância. ” (António Casteleiro)