Aprendendo a viver…
O sofrimento incomoda, mas também alarga o coração. Para alguns, aumenta a dor; para outros, encurta os espaços vazios do tempo. Estou aprendendo a viver, reconstruindo o que é ímpar e desejando que se torne par, resistindo às forças que tentam tornar singular o que em mim é tão plural. É nesse espaço de contradições que encontro a essência da vida, onde a luz e a sombra dançam em harmonia.
O coração bate, sempre faltando um pedaço; a respiração carece de ar. Olhos tristes, mas boca feliz; lágrimas amargas, mas sorriso doce. Este é o meu estado, fazendo do meu ser mais um universo, onde cada emoção é uma estrela a brilhar na vastidão do meu ser. E é na aceitação dessas emoções que descubro a beleza da vulnerabilidade.
Aprendendo a viver com manias de grandeza, como dizia Clarice Lispector: “Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.” Seja o que Deus quiser, estou aprendendo a viver. Todos desejam ser grandes, embora nem todos consigam. Para ser grande, é fácil: basta apenas ser grande. Mas a verdadeira grandeza reside na humildade de reconhecer nossas fragilidades e na coragem de nos levantarmos após cada queda.
Não preciso de estimulantes ou entorpecentes; a capacidade do êxtase corre em minhas veias. Dentro de mim, existe um lobo negro, esfomeado por alimento, faminto pela minha própria carne. Se eu não me cuidar, um dia ele pode me devorar. É um lembrete constante de que a luta interna é tão real quanto as batalhas externas, e que a verdadeira força está em enfrentar esses demônios com compaixão e compreensão.
A vida é provisória. Há tantas coisas para dizer, mas a maioria delas é inefável, inenarrável. No entanto, quero tanto expressá-las mansamente, como se estas palavras tivessem som no pensamento de quem lê, vociferando e sussurrando. Cada palavra é um convite à reflexão, uma ponte entre o que sinto e o que é compreendido, uma forma de eternizar momentos efémeros.
O amor verdadeiro é uma das poucas coisas na vida que é indivisível. O medo e a infelicidade vivem em conluio, planejando no escuro das nossas sombras desatinos e destinos indesejáveis. O que você pensa sobre si mesmo determina e revela seu destino. A graça da perfeição reside na sua condição de ser inatingível, e é na busca por essa perfeição que encontramos o nosso propósito. A imperfeição, afinal, é o que nos torna humanos e nos conecta uns aos outros.
Bem sei que não existe língua, idioma ou alfabeto capaz de expressar o significado do que é aprender a viver. Mas as palavras não são em vão quando escritas com convicção, e não são vazias quando lidas como ecos no pensamento de alguém. Elas têm o poder de transformar, de curar, de unir, e de nos lembrar que não estamos sozinhos.
Estou só nos passos do meu caminhar, mas não estou sozinho nesta jornada. E sei que, por mais obstáculos e armadilhas que existam, não vou mais me perder por esses caminhos. Cada passo é uma lição, cada desvio uma oportunidade de crescimento. Aprender a viver é, afinal, um ato de coragem e resiliência, um convite para abraçar a vida em toda a sua complexidade e beleza.
(António Casteleiro)
” Aceito os ignorantes ! Não aceito os que ignoram a própria ignorância. ” (António Casteleiro)