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A certeza do nada!

12 Julho 2008 27.276 views Não Commentado

Antonio CasteleiroSempre, no nosso humilde orgulho, achamos que nossas decisões são as mais acertadas, mas nem sempre são. Entristecemos as pessoas de que gostamos e amamos, tudo porque achamos que estamos certos.

Hoje, depois de mais de 54 anos de vida, a única certeza que tenho, é que nada sei. Não estou comentando só para citar outrem e sim, porque é isso mesmo. Cheguei a pensar que existia o valor da amizade, da palavra, do contrato, da reciprocidade, do trabalho duro, do investimento e acreditava, inclusive, na invencibilidade do Amor.

O tempo foi passando, e cada uma das certezas que eu tinha, fora ao chão e quebrarem-se como que estivessem escritas em placas de argila, as mesmas placas, que acreditava que tinham sido forjadas no mais duro e nobre aço, entalhadas a Laser, mas não… todas, quebraram-se, espatifaram-se e mostraram o quanto errado que eu estava… Não havia certeza, talvez uma única, somente que nada é certo.

Passei vários anos procurando encontrar as certezas, mas a minha procura, foi externa. Procurei em outras cidades, países, com amigos, outros amores e inclusive no meu trabalho e mais certezas colecionei… que nada sabia, que nada encontrava.

Então, onde que posso encontrar a certeza de alguma coisa? Eu acho, que todas as certezas estão dentro de nós… quando, procuramos, de facto, humildemente, ouvir nossos interior, ouvir a voz do nosso verdadeiro eu, aquele ponto de luz que somos… Não essa máscara que nos travestimos para conseguir sobreviver. Não a máscara da profissão, do dinheiro, do estado social entre tantas outras… é aquele estar, que não conseguimos encontrar quando deitamos na nossa cama. Aquele que fica assombrando-nos a cada dia… a cada momento que estamos sós.

Precisamos ouvir-nos, sentir-nos e, acho que somente assim, poderemos, estimar alguma certeza.

O nosso verdadeiro eu há muito tempo, eu cheguei a vislumbrar o meu verdadeiro eu… ele estava escondido no meio de tanta sujeira e coisas que fui criando e inventando na minha vida. Mentiras e mais mentiras, contadas e acreditadas por mim mesmo. Dúvidas, medos entre tantas coisas. Também, tinha a arrogância, roupas bonitas e caras etc.

Esse meu eu, que depois da limpeza, eu pude ver… mas… ele estava escondido atrás das minhas máscaras… as que nunca conseguiremos tirar, pois precisamos delas para sobreviver no mundo que vivemos.

O eu, é um ponto minúsculo, acho que nem tem tamanho, onde só emana uma luz intensa, mas que não machuca os olhos… uma luz linda e que nos dá a sensação que fala connosco…

Mas como que podemos conseguir falar connosco? Simples… estamos sempre usando alguma máscara… então, usamos ela para falar com o nosso eu…

Quando nós tivermos a oportunidade de ver, sentir e até falar, nós compreenderemos o quanto simples as coisas podem e devem ser e, talvez com sorte, nós entenderemos que de facto a única certeza que nós temos, é que nós precisaremos ouvir e acreditar no nosso verdadeiro eu… Mas, ele fala baixinho e muitas vezes usando de charadas… e ai que está o perigo, pois, continuamos arrogantes e não vamos querer ouvir.

Procuremos, antes de dormir, logo após deitar, projetar-nos para dentro de nós… procuremos passar pelos véus que criamos, pelas barreiras assustadoras que colocamos por lá, até que nós vejamos, lá longe uma luz… corramos até ela, pois nós poder-nos-emos ver… Nem sempre é uma tarefa fácil, porque nós mesmo temos medo de encarar-nos, porque, para chegarmos lá, precisamos despir-nos de todas as coisas que usamos para esconder-nos… precisamos encarar todas nossas mentiras, medos e coisas que criamos para que possamos auto enganar-nos.

Espero que consigam. Eu consegui, mas nem todas as vezes eu consigo… é complicado, pois devido ao nosso dia-a-dia, acabamos fazendo, dizendo e até inventando coisas que sabemos não ser lá essas coisas e para chegarmos próximo de nós, precisamos encarar e resolver essas coisas… o que não é fácil.

Boa sorte no seu encontro pessoal… e curta bastante.