A solidão… a minha solidão!?
O tema não é novo, mas a sua profundidade é eterna.
Desde que o homem é homem, em qualquer tempo, espaço e língua, a solidão foi percebida, refutada, trabalhada e cantada. É um tema que atravessa a história da humanidade, ecoando nas vozes de poetas, filósofos e artistas.
Costumo dizer que a solidão é a musa dos artistas, por inspirar grandes obras que falam da condição humana. É na solidão que muitos encontram a clareza necessária para expressar o que vai além das palavras, transformando a dor em beleza.
Nos livros de psicologia, aquela angústia infundada, aquela sensação de vazio, tão bem definida como “buraco narcísico”, e o mais vulgarmente denominado “tédio”, talvez sejam tentativas de descrever a solidão como uma parte intrínseca de nós. É um eco da nossa busca incessante por significado em um mundo que, por vezes, parece indiferente.
A nossa constituição, enquanto seres dotados de inteligência, observa o mundo, mas não o compreende… e busca entender a si mesmo. Essa busca é um labirinto, onde cada esquina revela mais perguntas do que respostas.
A nossa condição é um mistério que nos desafia! Quem já não ouviu dizer que viemos ao mundo sós, nele permanecemos e dele sairemos na mesma condição? Essa ideia, embora possa parecer mórbida, é uma verdade que nos confronta com a nossa própria existência.
No entanto, se somos plenos, jamais estamos sozinhos… Caminhamos connosco e o nosso maior encontro é connosco mesmos! É nesse diálogo interno que encontramos a força para enfrentar as tempestades da vida.
Particularmente, acredito que a solidão é episódica e necessária na vida; talvez não seja perene, e existem várias maneiras de se ser sozinho. Paradoxal ao que escrevi? Não, é apenas uma mudança de foco no pensamento.
Vejamos: há os que são sozinhos momentaneamente, apenas por opção; os que o são por destino; os que são “sozinhos” a sós; e os que são sozinhos acompanhados. E é preciso saber “usar” a solidão… colocá-la a nosso favor. A solidão pode ser um espaço de reflexão, um convite ao autoconhecimento, um momento para reavaliar prioridades e sonhos.
A solidão não é um mérito, mas também não é um demérito. É uma contingência e, talvez, o nosso maior instrumento para o autoconhecimento, pois é difícil descobrirmo-nos se não nos desligarmos dos “entornos”, ainda que momentaneamente. É na quietude que a alma se revela.
Na arte, tal movimento é constante. A manifestação artística é o momento supremo do encontro do ser consigo mesmo, para depois se doar ao mundo! Cada pincelada, cada nota, cada palavra é um testemunho da luta interna entre a solidão e a conexão.
Depois de pronta a obra, é impossível estar-se só! Porque a “união de espírito” jamais é solitária! É sempre comunhão. Ser compreendido é estar e sentir-se “junto”. A arte, então, torna-se um elo que une solidões, transformando a experiência individual em um sentimento coletivo.
Portanto, entendo a “obra de arte” como o triunfo do homem sobre a sua solidão… o tal limão transformado em suco… uma metamorfose que revela a beleza que pode surgir do sofrimento.
Assim, acredito que todo artista, por necessidade, é um pouquinho mais só do que o restante da humanidade. Mas que solidão boa! Que estado maravilhoso de espírito é estar sozinho para se encontrar próximo de si, com a finalidade de se doar! É algo pleno, mágico!
Por esta ótica, vejam, a solidão nem sempre é algo ruim. É um espaço de crescimento, um convite à introspecção e à descoberta de novas dimensões do ser.
Dizem que toda realidade é bem mais suportável do que a fantasia do medo, e costumo usar a solidão para ilustrar tal assertiva. Ser sozinho assusta apenas a quem ainda não aprendeu a “entender” a solidão. É um processo de aceitação e de amor-próprio.
E quem disser que não a conhece, na verdade, nega a sua própria condição de humanidade. A solidão é um reflexo da nossa vulnerabilidade, mas também da nossa força.
Sejamos, pois… felizes e unidos solitários… E, enfim, a melhor das obras a todos: A VIDA.
Mas… o que é, afinal, a solidão? É um convite à reflexão, um espaço para o crescimento e, acima de tudo, uma oportunidade de nos conhecermos melhor. É na solidão que podemos ouvir a nossa própria voz, longe das distrações e das expectativas externas.
A solidão é, portanto, um estado de espírito que pode ser tanto um fardo quanto uma bênção. É um espaço onde podemos confrontar os nossos medos, as nossas inseguranças e, ao mesmo tempo, descobrir a nossa força interior. É um momento de pausa, onde a vida se torna mais clara e onde podemos reavaliar o que realmente importa.
Assim, ao invés de temer a solidão, que possamos abraçá-la como uma parte essencial da nossa jornada. Que possamos aprender a dançar com ela, a encontrar beleza na quietude e a transformar a solidão em um aliado na busca pelo autoconhecimento e pela autenticidade.
A vida é uma obra de arte em constante evolução, e a solidão é uma das suas paletas. Que possamos, então, pintar a nossa história com as cores da introspecção, da criatividade e da conexão genuína com nós mesmos e com os outros.
(António Casteleiro)
” Aceito os ignorantes ! Não aceito os que ignoram a própria ignorância. ” (António Casteleiro)