O real viver das pessoas…
A grande generalidade das pessoas vive ao nível da sobrevivência física e psicológica, movidos por impulsos instintivos, adaptam-se ao meio, vivendo ao sabor das circunstâncias, procurando furtar-se aos sofrimentos e explorando na medida do possível os prazeres que se proporcionem.
O seu comportamento é fundamentalmente reativo e uma intervenção de outro tipo é difícil de encontrar.
Olhando passivamente para o que se lhes depara, procuram apenas corresponder às necessidades básicas para se manterem vivos.
Trabalham para assegurar o seu sustento e o dos lhes estão dependentes, a diversão que procuram têm em vista a alienação das dificuldades da vida. Logo que se sentem incapazes de exercer uma atividade produtiva de índole material, quer por doença ou idade, arrastam os seus dias numa inação notória, porque julgam ser esse o papel que lhes corresponde.
Por não se terem habituado a desenvolver as suas potencialidades internas, não intervém no mundo de forma criativa e numa fase mais adiantada, julgam ter direito apenas a recolher os frutos da vida passada, mediante um descanso considerado merecido pelos trabalhos já feitos em tempos idos.
O nível de consciência reduz-se à sua estrita realidade pessoal, pelo que não sentem impulso para intervir para além do seu círculo estreito de relações imediatas situadas ao nível da família, amizade ou vizinhança.
Desta forma, são acometidos muitas vezes de graves sentimentos de solidão e angústia, por não corresponderem ao apelo natural da vida, que exige de nós uma constante intervenção criativa e um relacionamento diversificado com o mundo e as pessoas.
A estreiteza de horizontes torna impensável a dedicação aos outros que não sejam parentes ou amigos próximos, dado que a consciência não ampliada, considera todos os outros apenas estranhos, com os quais nada tem a ver.
O egoísmo é, pois, nesta circunstância, uma forma natural de ser, dado que apenas o ego tem existência e tudo se pauta pela defesa em relação às agressões que possam fazer periclitar a solidez dessa construção egocêntrica.
As relações entre as pessoas são, por isso, pautadas pelo apego ou rejeição, conforme correspondam ou não às necessidades de segurança que, procuram a todo o custo satisfazer, por conceberem a vida como uma luta onde os perigos de derrota espreitam a toda a hora. Por terem a ilusão de que essa segurança depende exclusivamente de circunstâncias exteriores, e não de uma solidez ontológica, decorrente de um trabalho e exploração interiores, veem ameaças em todo o lado e por isso, consideram amigos aqueles que lhes satisfazem os seus próprios interesses e inimigos todos os que não correspondem às suas necessidades.
Tudo isto se alicerça numa falta grande de autoestima, por ausência de construção pessoal. A superficialidade de vida, conotada sobretudo com anseios de realização material, deixa o ser humano aquém das suas amplas potencialidades, criando-lhe um vazio interior, que origina uma descrença em si próprio. A insegurança então instala-se e os conflitos consigo próprio e com os outros, são o sinal dessa insegurança.
Se, contudo, o homem ou a mulher começarem a assumir mais declaradamente a responsabilidade da condução das suas próprias vidas, a harmonia pode ocupar o lugar do conflito, dado que perceberão que mais do que as circunstâncias em si, importa ter sobre elas uma visão adequada, para que não nos limitem, mas que permitam um crescimento interior, pela ajustada intervenção sobre elas mesmas. Em vez de se culpar o destino ou a má sorte pelos males que nos acontecem, compreende-se que a condução das nossas vidas depende antes de nós e que aquilo que nos acontece resulta em grande parte das nossas opções, porque mesmo aquilo que é inultrapassável pode ser vivido de forma a possibilitar a construção pessoal, que é geradora de felicidade.
Esta outra perspetival alarga os horizontes interiores, porque a acentuação do desenvolvimento das capacidades internas, permite que o ser faça uma ligação maior com a vida que descobre em si e o seu estreito ego torna-se mais amplo, passando a serem importantes valores condizentes com níveis mais profundos da personalidade humana. O egoísmo começa a propender para o altruísmo, porque se passa a incluir em si a realidade alheia, como parte da amplitude da vida então descoberta, sendo inevitável a tendência para uma intervenção criativa no mundo, a partir das capacidades descobertas pelo trabalho sobre a personalidade.