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Nós e os outros!

5 Abril 2008 164.814 views Não Commentado

004.140x140004.140x140Como podemos trabalhar bem com os outros? Como entender os outros e fazer-nos entender? Por que razão os outros não conseguem ver o que vemos, nem como nós vemos? Por que não percebem a clareza das nossas intenções? Por que interpretam erroneamente os nossos actos e palavras, complicando tudo? Por que não conseguimos ser objectivos no trabalho e deixar os problemas pessoais de lado? Vamos ser práticos e deixar os sentimentos de fora…

Quem já não pensou assim, alguma vez, em algum momento ou situação? Desde sempre, a convivência humana tem sido difícil e desafiante.

Escritores e poetas, ao longo dos tempos, têm abordado a problemática do relacionamento humano. Sartre, com a sua admirável capacidade de análise, fez a famosa afirmação: “O inferno são os outros.” Esta frase, embora provocadora, convida-nos a refletir sobre a natureza das nossas interacções e a responsabilidade que temos na construção das nossas relações.

Estamos realmente condenados a sofrer com os outros? Ou podemos ter esperança de alcançar uma convivência satisfatória e produtiva? As pessoas convivem e trabalham com outras pessoas, isto é, reagem às pessoas com as quais entram em contacto: comunicam-se, afastam-se, entram em conflito, competem, colaboram e desenvolvem afecto. Cada uma dessas interacções é uma oportunidade de crescimento, mas também um desafio que exige empatia e compreensão.

As interferências ou reações, voluntárias ou involuntárias, intencionais ou não-intencionais, constituem o processo de interação humana, em que cada pessoa, na presença de outra, não permanece indiferente a essa situação de presença estimuladora. A empatia, a capacidade de se colocar no lugar do outro, é fundamental para suavizar os conflitos e promover uma convivência harmoniosa.

O processo de interação humana é complexo e ocorre permanentemente entre as pessoas, sob a forma de comportamentos manifestos ou não manifestos, verbais e não verbais, pensamentos, reações mentais e/ou físico-corporais. Assim, um olhar, um sorriso, um gesto, uma postura corporal, um deslocamento físico de aproximação ou afastamento constituem formas não verbais de interação entre as pessoas. Mesmo quando alguém vira as costas ou permanece em silêncio, isso também é interação – e tem um significado, pois comunica algo aos outros. O facto de “sentir” a presença dos outros já é uma forma de interação.

Temos que mudar, mas devagar, porque a direcção é mais importante do que a velocidade. A mudança requer tempo e reflexão, e é essencial que estejamos abertos a aprender com as nossas experiências.

Se abrimos uma porta, podemos ou não entrar numa nova vida. Podemos optar por não entrar e ficar a observar a vida. Mas se vencermos a dúvida e o medo, e entrarmos, damos um grande passo nessa nova sala, e vivemos. Contudo, isso também tem um preço. Cada nova experiência traz consigo a possibilidade de crescimento, mas também a necessidade de enfrentar os nossos medos e inseguranças.

Existem inúmeras outras portas que vamos descobrindo. Às vezes, corre-nos mal; outras vezes, corre bem. O grande segredo é saber quando e qual porta deve ser aberta. A intuição e a reflexão são aliadas valiosas nesse processo.

A vida não é rigorosa. Ela propicia erros e acertos. Os erros podem ser transformados em acertos quando aprendemos com eles. Não existe a segurança do acerto eterno. A resiliência, a capacidade de nos adaptarmos e superarmos as dificuldades, é uma qualidade essencial para navegar pelas incertezas da vida.

A vida é generosa. A cada sala que habitamos, descobrimos tantas outras portas. A curiosidade e a vontade de explorar o desconhecido são fundamentais para enriquecer a nossa experiência.

A vida enriquece quem se arrisca a abrir novas portas. Ela privilegia quem descobre os seus segredos e generosamente oferece oportunidades. Mas a vida também pode ser dura e severa. É importante lembrar que cada desafio é uma oportunidade disfarçada.

Se não ultrapassarmos a porta, teremos sempre a mesma porta à nossa frente. É a repetição perante a criação, é a monotonia monocromática perante a multiplicidade das cores, é a estagnação da vida… Para a vida, as portas não são obstáculos, mas diferentes passagens. Cada passagem é uma nova oportunidade de crescimento e descoberta.

Conclusão

Em suma, a convivência humana é um campo fértil de desafios e oportunidades. Cada interação é uma chance de aprender, crescer e desenvolver empatia. Ao abrirmos portas para novas experiências, não apenas enriquecemos a nossa vida, mas também contribuímos para a construção de relações mais saudáveis e significativas. A vida, com todas as suas nuances, convida-nos a explorar, a arriscar e a abraçar a multiplicidade das cores que nos rodeiam. Que possamos, assim, transformar cada porta que encontramos numa passagem para um futuro mais pleno e harmonioso.

(António Casteleiro)

www.antoniocasteleiro.com

” Aceito os ignorantes ! Não aceito os que ignoram a própria ignorância. ” (António Casteleiro)