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A nossa odisseia continua…

5 Janeiro 2008 165.341 views Não Commentado

004.140x140004.140x140Em desaceleração própria de fim de ano, assisti a um consagrado filme, talvez o maior no género da ficção científica de todos os tempos: “2001 – UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO”, de Stanley Kubrick, um cineasta cuja genialidade marcou época.

Como já pretendia falar mais uma vez sobre o tempo, sinto que a obra me inspirou neste tema. É impressionante como, com o passar dos anos, as mesmas obras de arte mudam o diálogo connosco.

Parece que, a cada novo tempo, quando voltamos à literatura, à pintura, à música, ao cinema, ao teatro, enfim, a todos os tipos de expressão artística, descobrimos novas mensagens.

Na verdade, a arte não muda… nós é que mudamos. Mudamos o foco, mudamos o olhar.

Não sei se isso acontece com frequência com as pessoas, mas vejo que, ultimamente, um sentimento estranho me invade a cada fim de ano.

A festa é linda! Brinda o passado, o presente e o futuro!

Porém, sinto algo estranho, como se uma parte de mim ficasse definitivamente para trás, e uma certa insegurança que misteriosamente está por vir.

E nesse contexto de vida terrena, o tempo passa a ser fundamental! A cada pôr do sol, despede-se um dia que não volta mais.

Sabemos que a alvorada será infalível, mas não sabemos quais serão as cores da próxima manhã.

No réveillon, familiares e amigos reúnem-se para o desejo uníssono de felicidade. É o que todos queremos, em última análise: que tudo nos corra bem, que as auroras nos tragam brilho e claridade, pois ser feliz é uma qualidade intrínseca da vida. A vida é um estado de graça! Julgo-a um pedaço de tempo que nos é ofertado “a nosso favor”. O que fizermos dele… responderemos primeiramente a nós mesmos!

Mas o tempo é uma medida relativa. O que existe, na verdade, é o infinito da eternidade, e somos nós a passar no absoluto de nós mesmos. No entanto, também podemos ser eternidade na fenomenologia da energia espiritual.

Talvez apenas tenhamos o livre-arbítrio para nos conduzir por alguns caminhos. O filme de Stanley Kubrick hoje passou-me exatamente essa sensação.

Talvez seja o filme de ficção mais real que já vi, depois de ter caminhado um espaço pela vida.

No auge dos meus vinte anos, jamais poderia descrever esta sensação que hoje a obra me despertou.

Estamos em viagem. Uma linda viagem pelo tempo, sem conhecermos a hora de partida e tão pouco a hora de chegada.

Também desconhecemos o destino, e não temos sequer controle sobre a nave que operamos.

Dotados pela Providência, com o mistério da inteligência natural e a bússola do “livre-arbítrio”, somos capazes de criar uma inteligência artificial paralela, mas talvez não sejamos suficientemente inteligentes para controlá-la.

Refiro-me à passagem da máquina confrontando o Homem, qual criatura contra o seu criador.

Talvez seja exatamente isso o que já ocorre no mundo de hoje… De toda a sorte, estamos em contagem regressiva.

Só não sei dizer se é contagem da vida ou contagem para a vida.

Estamos provavelmente em trânsito de uma transição.

Partimos das mãos de Deus, e a Ele retornaremos depois de uma linda e breve viagem, porque nosso tempo é absolutamente nada quando comparado aos mistérios do cosmos e à eternidade dos tempos!

Enquanto isso, desfrutemos! Preparemos a nave e alcemos aos céus os nossos mais nobres pedidos:

Que a viagem seja tranquila, através de um espaço onde caibam todas as diferenças que embelezam a nossa valiosa e breve existência.

Sob a leveza da valsa de Johann Strauss… Feliz Odisseia a todos!

(António Casteleiro)

www.antoniocasteleiro.com

” Aceito os ignorantes ! Não aceito os que ignoram a própria ignorância. ” (António Casteleiro)