A nossa odisseia continua…
Em desaceleração própria de fim de ano, assisti a um consagrado filme, talvez o maior no género da ficção científica de todos os tempos: “2001 – UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO”, de Stanley Kubrick, um cineasta cuja genialidade marcou época.
Como já pretendia falar mais uma vez sobre o tempo, sinto que a obra me inspirou neste tema. É impressionante como, com o passar dos anos, as mesmas obras de arte mudam o diálogo connosco.
Parece que, a cada novo tempo, quando voltamos à literatura, à pintura, à música, ao cinema, ao teatro, enfim, a todos os tipos de expressão artística, descobrimos novas mensagens.
Na verdade, a arte não muda… nós é que mudamos. Mudamos o foco, mudamos o olhar.
Não sei se isso acontece com frequência com as pessoas, mas vejo que, ultimamente, um sentimento estranho me invade a cada fim de ano.
A festa é linda! Brinda o passado, o presente e o futuro!
Porém, sinto algo estranho, como se uma parte de mim ficasse definitivamente para trás, e uma certa insegurança que misteriosamente está por vir.
E nesse contexto de vida terrena, o tempo passa a ser fundamental! A cada pôr do sol, despede-se um dia que não volta mais.
Sabemos que a alvorada será infalível, mas não sabemos quais serão as cores da próxima manhã.
No réveillon, familiares e amigos reúnem-se para o desejo uníssono de felicidade. É o que todos queremos, em última análise: que tudo nos corra bem, que as auroras nos tragam brilho e claridade, pois ser feliz é uma qualidade intrínseca da vida. A vida é um estado de graça! Julgo-a um pedaço de tempo que nos é ofertado “a nosso favor”. O que fizermos dele… responderemos primeiramente a nós mesmos!
Mas o tempo é uma medida relativa. O que existe, na verdade, é o infinito da eternidade, e somos nós a passar no absoluto de nós mesmos. No entanto, também podemos ser eternidade na fenomenologia da energia espiritual.
Talvez apenas tenhamos o livre-arbítrio para nos conduzir por alguns caminhos. O filme de Stanley Kubrick hoje passou-me exatamente essa sensação.
Talvez seja o filme de ficção mais real que já vi, depois de ter caminhado um espaço pela vida.
No auge dos meus vinte anos, jamais poderia descrever esta sensação que hoje a obra me despertou.
Estamos em viagem. Uma linda viagem pelo tempo, sem conhecermos a hora de partida e tão pouco a hora de chegada.
Também desconhecemos o destino, e não temos sequer controle sobre a nave que operamos.
Dotados pela Providência, com o mistério da inteligência natural e a bússola do “livre-arbítrio”, somos capazes de criar uma inteligência artificial paralela, mas talvez não sejamos suficientemente inteligentes para controlá-la.
Refiro-me à passagem da máquina confrontando o Homem, qual criatura contra o seu criador.
Talvez seja exatamente isso o que já ocorre no mundo de hoje… De toda a sorte, estamos em contagem regressiva.
Só não sei dizer se é contagem da vida ou contagem para a vida.
Estamos provavelmente em trânsito de uma transição.
Partimos das mãos de Deus, e a Ele retornaremos depois de uma linda e breve viagem, porque nosso tempo é absolutamente nada quando comparado aos mistérios do cosmos e à eternidade dos tempos!
Enquanto isso, desfrutemos! Preparemos a nave e alcemos aos céus os nossos mais nobres pedidos:
Que a viagem seja tranquila, através de um espaço onde caibam todas as diferenças que embelezam a nossa valiosa e breve existência.
Sob a leveza da valsa de Johann Strauss… Feliz Odisseia a todos!
(António Casteleiro)
” Aceito os ignorantes ! Não aceito os que ignoram a própria ignorância. ” (António Casteleiro)