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O equilíbrio traz Paz e Realização!

3 Setembro 2011 99.604 views Não Commentado

004.140x140004.140x140Vivemos num mundo de polaridades opostas e, por isso, a nossa tendência é fixarmo-nos num lado ou noutro dessas dimensões diferentes, o que provoca desequilíbrio, uma vez que os opostos devem ser conciliados e harmonizados entre si, em direcção à coluna central que medeia entre essas polaridades distintas.

O equilíbrio traz paz e realização.

No entanto, o ser humano está em constante aprendizagem sobre como viver e, por isso, comete muitos erros que originam sofrimentos diversos. Saímos de um apego e, logo a seguir, ligamo-nos a outro, que julgamos nos libertar do primeiro. Contudo, como todo o apego é uma fixação numa das polaridades, acabamos por nos desequilibrar novamente e enfrentar problemas existenciais.

Muitos exemplos se podem dar sobre este assunto. Na modernidade, pensou-se encontrar a libertação sexual, contrariando as normas repressivas que antes vigoravam e que limitavam o normal desempenho da vida sexual. Assim, passou a não haver limites para os desejos que surgiam. Tudo se fazia, sem condicionamentos nem atenção ao equilíbrio a encontrar. Pensando que eram livres desta forma, as pessoas perceberam que, afinal, estavam reféns das suas fantasias desordenadas, que levavam ao enfado e à angústia.

Na educação das crianças, o mesmo se passou. Se, nas sociedades tradicionais, a educação autoritária restringia os direitos da criança a ser respeitada como ser humano, agora verifica-se uma tendência para o extremo oposto: uma permissividade excessiva que desorienta o educando, não lhe dando referências de contenção e despreparando-o para a vida que tem de viver. Procura-se eliminar a frustração, como se essa não fizesse parte do nosso dia-a-dia e para a qual devemos estar preparados..

De forma semelhante, os agregados populacionais de outrora eram constituídos por grupos fechados, quer fossem famílias alargadas, quer se tratasse de tribos ou outros grupos primários. Assim, a cooperação era essencial, pois sem ela os núcleos não subsistiam. O indivíduo estava subordinado à vontade do colectivo e tinha necessariamente de cumprir aquilo que a comunidade exigia, sob risco de exclusão. Embora a sobrevivência fosse assegurada, havia pouca noção de liberdade e autonomia de cada elemento, que se identificava e diluía através da sua inserção grupal.

Com o advento da modernidade, o individualismo sociológico passou a constituir a grande regra de funcionamento das sociedades, trazendo um conjunto de benefícios que se estendem desde o reconhecimento dos direitos humanos, à emancipação da mulher, à tendência para a igualdade de todos os cidadãos e à instauração de democracias políticas nos países influenciados por estas ideias. A autonomia dos cidadãos permite uma maior capacidade de expressão individual e uma maior criatividade, enriquecendo não só a nível pessoal, mas também a toda a sociedade. No entanto, é crucial dar atenção aos fenómenos de solidão que toda esta revolução trouxe. As pessoas, remetidas a si próprias e não já necessariamente protegidas por um grupo, vêem-se muitas vezes sozinhas e angustiadas. O desmembramento das sociedades, organizadas desta maneira, pode suscitar sentimentos de egoísmo e indiferença em relação ao sofrimento alheio. Assim, é fundamental criar redes de solidariedade que englobem pessoas de boa vontade, dispostas a ajudar quem delas precisa.

No nosso dia-a-dia privado, é igualmente importante prestar atenção a muitos dos nossos comportamentos para que nos tragam realização, sendo norteados por princípios de equilíbrio e diversidade. Embora possa parecer necessário dedicar uma atenção excessiva a determinado sector da nossa vida, é essencial contrabalançar isso com o exercício de outras actividades que também nos proporcionem satisfação, alargando os nossos horizontes e permitindo-nos sentir melhor connosco próprios. A vida é feita de variedade e, se não respeitarmos essa sua característica, ela pode voltar-se contra nós.

É importante ainda ter em conta que o nosso equilíbrio advém da conjugação simultânea da noção de dever com a de prazer. Se apenas atendemos a um dos aspectos, corremos o risco de nos sentirmos presos a nós mesmos, infelizes e escravizados. Assim, por muito agradável que possa ser uma determinada situação, muitas vezes temos de abdicar pontualmente dela para podermos atender a algo que deve ser feito ou que é importante para o nosso bem-estar. Chama-se a isto o adiamento da gratificação, que, se conseguido, revelará uma boa inteligência emocional. Podemos, por exemplo, estar longas horas na cama, mas é necessário vencer a inércia para que a actividade do dia se processe. E esta deve ser o mais diversificada possível, para que as várias dimensões da nossa personalidade e gostos possam ser atendidos.

Se gosto de estar só, devo, na mesma linha de entendimento, fazer um esforço para também conviver e dar atenção às duas vertentes do meu ser: eu comigo e eu com os outros.

Se não aprecio festas e convívios alargados, devo igualmente tentar integrar-me neles pelo menos algumas vezes, para que o pendor não fique apenas para o lado que tenho tendência. A diversidade nas experiências sociais enriquece a nossa vida e contribui para um equilíbrio emocional mais saudável.

[AntónioCasteleiro]

www.antoniocasteleiro.com

” Aceito os ignorantes ! Não aceito os que ignoram a própria ignorância. ” (António Casteleiro)