Este blog é um espaço de análise e opinião. Da minha análise sobre factos e coisas do dia-a-dia, e da opinião que à cerca delas vou construindo. (antónio casteleiro)           SEJA SOCIAL          PARTILHE este blog           COMENTE individualmente os textos ou passe pelo LIVRO DE VISITAS ...


Home » Editorial

Depois da dor… A consciência !

17 Setembro 2011 65.679 views Não Commentado

Antonio CasteleiroNo nosso dia-a-dia, apercebemo-nos daquilo que dói e quase não valorizamos o que de bom nos acontece.

Não nos apercebemos da boa saúde do nosso corpo, de que temos comida para nos alimentar, da família e amigos que nos rodeiam e de que nascemos num país melhor que muitos outros em termos de condições de vida.

Lamentamo-nos das dificuldades que o dia-a-dia acarreta e não enaltecemos as alegrias que o mesmo proporciona. Há uma tendência natural nesse sentido e a sociedade reflecte esta perspectiva, nas crenças e valores que adopta, ao enfatizar o medo e a desconfiança em relação à vida e às pessoas.

Assim, a carência de liberdade que nos tem orientado na vida em comum, baseada num sistema rígido de proibições e impedimentos, em vista da prossecução daquilo que se entendeu como necessário à colectividade, decorre de uma visão restritiva e receosa daquilo que nos acontece, porque se teme a dor, que espreita a toda a hora. Concebe-se, então a vida como um fardo difícil de carregar, acreditando serem necessários o sacrifício e o sofrimento para a obtenção do sucesso. O negativismo enferma todas as atitudes e comportamentos, e quando o povo diz “é assim a vida” cinge-se ao que de mau acontece, como se a experiência de viver fosse totalmente dolorosa.

Os meios de comunicação social, por seu lado, enchem os seus periódicos e tempos de antena, relatando as catástrofes e mortes que vão acontecendo, considerando-as como notícias que importa transmitir, e relegando ao esquecimento e ocultação aquilo que de agradável e positivo vai ocorrendo no mundo.

Costuma dizer-se que só damos pelo bem depois de o perder, quer se trate de questões de saúde, de relações afectivas ou de posses materiais. Até lá, mostramos sempre a nossa ingratidão, porque continuamente nos lamentamos por aquilo que nos desagrada e falta.Estamos imersos no bem e disso não nos apercebemos, e apenas quando dele nos afastamos, nos damos conta da anormalidade e reagimos. É como se a vida, pela sua natureza intrínseca fosse boa e nos deixasse felizes, mas não percebemos isso senão depois que é contrariada essa lei natural, surgindo o sofrimento.
O bem em que nos movíamos tornou-se então perceptível, através da tomada de consciência da sua falta ou ausência, deixando-nos desconfortáveis.

A experiência de dor ou sofrimento sobreleva todas as outras, porque é nela que inevitavelmente concentramos a atenção, na tentativa de a vencer, ou seja, damos-lhe consciência e consistência, passando para segundo plano tudo o mais. A sensação de dor é de tal forma absorvente e poderosa que abrange todo o nosso campo de consciência, ficando mitigadas todas as outras sensações.

De facto, quando por exemplo adoece um órgão do nosso corpo, apercebemo-nos inevitavelmente da sua existência e localização, mesmo se antes não o fazíamos, porque o organismo saudável integrava esse órgão no seu todo, não o evidenciando por isso. A anormalidade, impedindo a união entre as partes, obriga à consciencialização dessa zona do corpo – que dessa forma se isola e destaca -, e consequentemente à busca e ao desejo da recuperação da harmonia perturbada pela doença. Parece, que só, então, se passa a dar valor à saúde que antes aceitávamos como natural, e a que, contudo, não conferíamos o valor que agora lhe damos.

A experiência da dor poderá, então, ter o mérito de nos colocar numa atitude mais consciente perante a vida, porque passamos a compreender coisas que doutra forma nos passariam ao lado e que o sofrimento põe em destaque. Começamos, então, a valorizar o bem, que nessa oportunidade nos falta e a evitar a repetição dos erros que eventualmente a possam ter ocasionado. Tiramos, enfim, lições daquilo que custa e a vida passa a ser melhor compreendida e valorizada.

A experiência terrena envolve, pois, a tentativa de acerto, através do erro, para que se adquira consciência. Através do mal e das dificuldades, apercebemo-nos do valor do seu oposto – o bem que nos torna felizes e saudáveis -, e passamos a evitar os erros que ocasionam as situações complicadas, percebendo existirem leis da vida cuja violação acarreta danos. Imersos no bem de que a vida é feita, só dele tomámos consciência quando de alguma forma do mesmo nos afastámos.

A criança precisa de cair muitas vezes até aprender a andar, nós também só acertaremos o passo com a vida, depois de muitos desvios e sofrimento.

 

Licença Creative Commons   Este trabalho de Antonio Casteleiro, está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em www.antoniocasteleiro.com

   Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

Este blog é um espaço de análise e opinião. Da minha análise sobre factos e coisas do dia-a-dia, e da opinião que à cerca delas vou construindo. Sobre o que escrevo, muitos dos que me lerem estarão de acordo e muitos outros discordarão. Não há mal nenhum nisso. Assim uns e outros saibam respeitar uma opinião contraria. Antonio Casteleiro.