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O equilíbrio traz Paz e Realização!

3 Setembro 2011 40.403 views Não Commentado

Antonio CasteleiroVivemos num mundo de polaridades opostas e por isso a nossa tendência é a de nos fixarmos num lado ou noutro dessas dimensões diferentes, o que provoca desequilíbrio, já que os opostos devem ser conciliados, harmonizados entre si, em direcção à coluna central que medeia entre essas polaridades distintas.

O equilíbrio traz paz e realização.

Mas, o ser humano anda a aprender a viver, e por isso faz muitos erros, que originam sofrimentos diversos.
Saímos de um apego e logo a seguir ligamo-nos a outro, que julgamos nos libertará do primeiro. Mas, porque todo o apego é a fixação numa das polaridades, de novo ficamos desequilibrados e com problemas existenciais. …….

Muitos exemplos se podem dar sobre este assunto e então vejamos: Na modernidade, pensou-se encontrar a libertação sexual, contrariando as normas repressivas que antes vigoravam, que interditava o normal desempenho da vida sexual. Então, passou a não haver limites para os desejos que entretanto surgiam. Tudo se fazia, sem condicionamentos nem atenção ao equilíbrio a encontrar. Então, pensando serem livres desta forma, as pessoas perceberam que afinal estavam reféns das suas fantasias desordenadas, que levavam ao enfastiamento e à angústia.

Na educação das crianças, o mesmo se passou. Se nas sociedades tradicionais, a educação autoritária, restringia os direitos da criança a ser respeitada como ser humano, agora verifica-se uma tendência para o extremo oposto, uma permissividade excessiva, que desorienta o educando, não se lhe dando referências de contenção e despreparando-o assim para vida que tem de viver. Procura-se eliminar a frustração, como se essa não fizesse parte do nosso dia-a-dia  e para a qual temos de estar preparados.

De idêntica forma, os agregados populacionais de outrora eram constituídos à base de grupos fechados, quer fossem famílias alargadas, ou se tratasse de tribos ou outros grupos primários. Então, a cooperação era praticada, porque sem ela os núcleos não subsistiam. O indivíduo estava subordinado à vontade do colectivo e tinha necessariamente que cumprir aquilo que a comunidade exigia, sob risco de exclusão. Se a sobrevivência desta forma era assegurada, havia pouca noção de liberdade e autonomia de cada elemento, que se identificava e diluía através da sua inserção grupal.

Com o advento da modernidade, o individualismo sociológico passou a constituir a grande regra de funcionamento das sociedades, trazendo todo um conjunto de benefícios, que se estendem desde o reconhecimento dos direitos humanos, à emancipação da mulher, à tendência para a igualdade de todos o cidadãos e à instauração de democracias políticas nos países que foram por estas ideias influenciados. A autonomia dos cidadãos permite uma maior capacidade de expressão individual e uma maior criatividade, enriquecendo não só a nível pessoal, como também a toda a sociedade.
No entanto, há ainda que dar atenção aos fenómenos de solidão que toda esta revolução trouxe. As pessoas, remetidas a si próprias e não já necessariamente protegidas por um grupo, vêem-se muitas vezes sozinhas e angustiadas. O desmembramento das sociedades, organizadas desta maneira, pode suscitar sentimentos de egoísmo e de indiferença em relação ao sofrimento alheio. Há, então, que se dar agora atenção à criação de redes de solidariedade, que englobem pessoas de boa-vontade, que vão ao encontro de quem delas precisa.

No nosso dia-a-dia privado, importa igualmente dar atenção a muitos dos nossos comportamentos para que eles nos tragam realização, dado serem norteados segundo princípios de equilíbrio e diversidade. Assim, muito embora se possa afigurar como necessário dar-se uma atenção muito grande a determinado sector da nossa vida, há que tentar contrabalançar isso com o exercício de outras actividades, que igualmente nos tragam satisfação, alargando os nossos horizontes e deixando-nos melhor connosco próprios. É que a vida é feita de variedade e se não obedecemos a essa sua característica, ela pode voltar-se contra nós.

Há que ter em atenção ainda que o nosso equilíbrio advém também da conjugação simultânea da noção de dever com a de prazer. Se apenas atendemos a um dos aspectos, ficamos presos a nós mesmos, sentindo-nos infelizes, porque escravizados. Assim, por muito agradável que possa ser uma determinada situação, muitas vezes temos de abdicar pontualmente dela, para podermos atender a algo que tem de ser feito ou que é importante para o nosso bem-estar. Chama-se a isto o adiamento da gratificação, que se é conseguida revelará uma boa inteligência emocional. Podemos, por exemplo, estar longas horas na cama, mas há que vencer a inércia, para que a actividade do dia se processe. E esta deve ser o mais possível diversificada, para que as várias dimensões da personalidade e gostos possam ser atendidos.

Se gosto de estar só, devo, na mesma linha de entendimento, fazer um esforço para também conviver e assim dar atenção às duas vertentes do meu ser: eu comigo e eu com os outros.

Se não aprecio festas e convívios alargados, devo igualmente tentar neles integrar-me pelo menos algumas vezes para que o pendor não fique só para o lado para que tenho queda.