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A precipitação de fazer julgamentos ou conclusões…

10 Janeiro 2009 44.932 views Não Commentado

Antonio CasteleiroMuito do que vivemos depende do modo como lidamos com a vida, com as pessoas e com o que nos acontece.

Se nosso olhar é rígido e inflexível, não perceberemos que tudo tem duas faces e que os opostos se complementam, sendo focos de uma mesma energia.

Assim é com o dia e a noite, com a alegria e a tristeza, com a saúde e a doença, com o amor e a raiva, com o bem e o mal, com a delicadeza e a agressividade, com a fraqueza e a força…

Se nos prendermos somente às aparências, muito da vida passará sem ser notado. Como crianças, perceberemos os factos como antes ouvíamos as histórias da carochinha, divididas que eram entre madrastas e fadas, entre vilões e príncipes, entre bandidos e mocinhos e iremos pela vida “carimbando” pessoas e factos como se fossem ruins ou bons.

É muito comum alguém sentir antipatia por quem é agitado, cobrador, questionador ou ansioso demais e, por outro lado, se aliar à pessoa que é criticada, aparentemente pacífica e calada. “A primeira deve ser culpada dos conflitos, vive reclamando, enquanto que a outra, coitada, só escuta…”

No meu viver, um pouco irreverente, pude vivenciar o quanto as aparências enganam e que tudo tem duas faces… À medida que se vai conhecendo a história das pessoas e o modo como interagem, é possível perceber que aquela pessoa calada e “pacífica” é, em muitos momentos, quem gera o conflito e sabota a saúde da relação. O comportamento “pacífico” pode ser deliberadamente provocador e frequentemente usado para esconder, não entrar em contacto com a situação ou desestabilizar o outro, que não se percebe ouvido e levado em conta.

A vida é cheia de polaridades. Só damos valor à saúde, quando estamos doentes, valorizamos muito o que não podemos ter, em lugar do que possuímos…

Lembro-me de um conto que, de um modo interessante, nos leva a reflectir sobre a dualidade dos factos:

“Conta-se que numa pequena cidade do interior, um grupo de pessoas se divertia com o idiota da aldeia. Um pobre coitado de pouca inteligência, que vivia de pequenos biscates e esmolas. Diariamente eles chamavam o bobo ao bar onde se reuniam e ofereciam a ele a escolha entre duas moedas – uma grande de 400 réis e outra menor, de dois mil réis.

Ele sempre escolhia a maior e menos valiosa, o que era motivo de risos para todos.

Certo dia, um dos membros do grupo chamou-o e lhe perguntou se ainda não havia percebido que a moeda maior valia menos.

“Eu sei” – respondeu o não tão tolo assim – “ela vale cinco vezes menos, mas no dia em que eu escolher a outra, a brincadeira acaba e não vou mais ganhar minha moeda.”

E, agora, a pergunta: Quais eram os verdadeiros tolos da história?

De acordo com a filosofia oriental, o Universo, em sua origem, tinha uma única força, que quando polarizava no sol e na lua, acabou por criar a primeira dualidade. Várias polarizações foram ocorrendo a partir daí: o sol e a lua vieram a gerar a luz e a escuridão; o calor e o frio; a actividade e a sonolência. Todos os seres vivos começaram a necessitar tanto de um quanto do outro para sobreviverem.

Sendo assim, é precipitado fazer julgamentos ou conclusões, sem um conhecimento mais profundo dos factos e das histórias pessoais. A verdade tem muitas faces e o que parece ser negativo, certamente também nos trará algo de positivo para aprender a viver melhor