A vida virtual: Reconhecimento ou Ilusão?
Nos dias de hoje, muitos dos nossos amigos “virtuais” nas redes sociais partilham diariamente ou com frequência os seus momentos de vida:
- Ir para a escola ou para o trabalho.
- Fazer compras no shopping, com uma foto no Instagram.
- Almoçar ou jantar com amigos, acompanhados de um status no Facebook.
- Publicar fotos de família.
- E assim por diante…
Observamos que a vida dessas pessoas, assim como a de muitos outros à sua volta, tornou-se mais acessível, rompendo as barreiras entre o que é pessoal e o que é público. O que mais nos assusta não é apenas a exposição exacerbada das vidas alheias, mas sim o facto de que essa partilha é, em grande parte, uma escolha consciente. Isso, sim, é alarmante.
A necessidade de reconhecimento e atenção por parte de desconhecidos transformou-se no objetivo de vida de muitas pessoas. A validação das suas experiências e vivências, medida pelas “estatísticas” das redes sociais, tornou-se uma busca incessante. Parece que não basta ser feliz, amar, viajar ou dançar; tudo isso perde valor se não for partilhado com os outros. É como se houvesse um desencantamento da própria vida, do mundo e das suas pequenas maravilhas.
Estamos a viver um momento de carência afetiva coletiva. Ao observar os muitos amigos virtuais, muitos acreditam estar rodeados de pessoas disponíveis e acessíveis, com um mínimo de esforço para obter a sua atenção. No entanto, essa percepção pode ser enganadora.
Um olhar crítico sobre o estado emocional, o sucesso e o bem-estar dos outros leva à conclusão de que muitos não estão verdadeiramente convencidos do que são ou do que sentem. Existe uma fragilidade subjacente a tudo isto. Na realidade, estas questões já existiam antes; a Internet e as redes sociais apenas serviram como ferramentas que facilitaram a eclosão dos conteúdos que presenciamos diariamente.
O resultado é que as necessidades humanas de afeto estão cada vez mais lançadas num vazio real, onde o feedback é alimentado por um circuito neurótico que imagina o afeto, em vez de realmente o sentir.
O Perfil do “Amigo Virtual”: Sempre Mais Verde?
A realidade exposta nas redes sociais molda a nossa autoimagem e a forma como percebemos as nossas próprias realidades. Isso pode ser depressivo e angustiante, uma vez que a vida dos outros parece sempre melhor do que a nossa. Mas será que as pessoas têm realmente uma vida tão perfeita como a que partilham nas redes sociais? Ou será que se trata apenas de uma edição falsa das suas vidas? Até que ponto podemos satisfazer-nos ao reinventar a nossa realidade, muitas vezes de forma irreal?
Construção da “Falsa” Realidade Perfeita
A autoimagem das pessoas é frequentemente influenciada pelo “melhor do outro”, servindo como um medidor comparativo do seu próprio valor. Aqueles que ostentam viagens, relacionamentos e condições de vida privilegiadas contrastam com os que não publicam, mas que acompanham atentamente tudo o que é partilhado. Os primeiros escolhem como querem ser vistos pelos outros, enquanto os últimos se espelham num modelo irreal e disfuncional de felicidade.
O intuito deste texto não é ditar o que é certo ou errado em relação ao que se deve ou não partilhar nas redes sociais. A liberdade de expressão é um direito fundamental e continua a ser um dos nossos maiores trunfos. Contudo, é importante refletir sobre as implicações da nossa presença online e sobre como isso afeta a nossa autoimagem e as nossas relações interpessoais.
(António Casteleiro)
” Aceito os ignorantes ! Não aceito os que ignoram a própria ignorância. ” (António Casteleiro)