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Durante o meu caminhar…

7 Fevereiro 2008 199.202 views Não Commentado

004.140x140004.140x140Na minha passagem pelo México, onde ainda tenho muitos amigos, não de circunstância, mas de verdade, amigos que se tornaram parte da minha vida.

Recordo um amigo especial que morava numa favela, que me convidou uma vez para ir à sua casa passar um fim de semana. Lá, vi com os meus próprios olhos o que muitos só veem em noticiários e documentários. Existe, de facto, um poder paralelo e uma desilusão com os poderes legais. Mas, mesmo assim, há uma alegria vibrante em viver azul, mesmo com tanto vermelho manchando o chão.

Lá do alto, as luzes da cidade que ficam lá em baixo são como as estrelas do céu, brilhando com promessas e sonhos não realizados. O mundo por lá é ao contrário; o céu fica no chão. Senti que, para eles, a beleza imensa daquela cidade estava tão perto dos olhos e tão longe do alcance das suas mãos. Vi nos olhos do meu amigo o brilho de uma esperança que já não acredita, mas que persiste em esperar, como uma chama que se recusa a apagar.

Os turistas sorriem mais abertamente por lá, como se a simplicidade da vida os libertasse das suas preocupações. Curiosamente, o meu medo foi mudando de intensidade e, aos poucos, já não era nada. Quando percebi, já era mais um, integrado na dança da vida. Entrei na dança do salero e da paz, da alegria sem motivos especiais, de um povo que vive como criança, celebrando cada momento como se fosse um presente.

Este amigo já não mora na favela, mas continuamos grandes amigos e a defender os nossos ideais, ideais que deviam ser de todos: a solidariedade, a partilha e o bem-estar de todos, como pilares de uma sociedade mais justa.

Não importa o que é o mundo; o importante são os nossos sonhos, pois são eles que nos guiam e nos dão força para enfrentar as adversidades.

E assim, ao longo do meu caminhar, aprendi que a verdadeira riqueza não está nas posses, mas nas conexões que fazemos e nas histórias que partilhamos. Que possamos sempre olhar para o céu, mesmo quando o chão está manchado, e encontrar beleza nas pequenas coisas, pois é nelas que reside a verdadeira essência da vida.

(António Casteleiro)

www.antoniocasteleiro.com

” Aceito os ignorantes ! Não aceito os que ignoram a própria ignorância. ” (António Casteleiro)