Hipocrisia…por vezes o principio da burrice!
A forma como muita gente prefere enfrentar o mundo, diante das adversidades que nos impõem por razão de conflitos mal resolvidos, ou ainda quando determinada situação convém que seja contornada da forma, digamos, literalmente hipócrita.
A construção do modelo social é feita de períodos onde, para muitos, é mais cómodo acovardar-se diante de negativas e omissões a ter que assumir posturas, arrependimentos e tentar consertar deslizes, não raramente provocados pelo excesso do exercício da arte de fingir, quando não fugir…
Costuma-se dizer que determinado sujeito é hipócrita quando recomenda um tipo de ação e ele próprio pratica algo bem distinto. Com efeito, soa hipocritamente a afirmação de que “nosso compromisso é com o povo mais humilde” proferida por um cidadão investido de poderes outorgados pelo público diante de uma bela paisagem, a bordo de um iate luxuoso, em alto mar, saboreando guloseimas diferenciadas e bebericando os mais finos sabores… bem distante do “povo mais humilde”.
Da mesma forma, pessoas que têm satisfações a dar para o chamado núcleo formador de opinião do conjunto social, acham mais confortável esconder-se diante de um “não é isso que quero para mim” a buscar as verdadeiras razões pelas quais se tenha chegado a essa situação, como forma, inclusive, de superar conflitos e adversidades.
Na verdade, é possível deduzir que a hipocrisia é parente muito próxima da ira, ainda que exercitada por caminhos opostos. Um sujeito irado, com raiva de algo ou alguém, usa a forma mais hipócrita possível para tentar dissimular o sentimento do momento. Passa a praticar atos os quais ele próprio sempre abominou, ou fingia antes abominar, para superar – ou esconder-se – da realidade iminente.
Embora essas situações sejam bastante comuns nos meios políticos, a capacidade fundamental da inteligência humana, da qual dependem todas as outras, como dom de discernir o essencial do acidental, o importante do irrelevante, deve consistir num feliz ajuste entre o foco da atenção e a estrutura do objeto considerado, seja ele uma coisa ou ente, um problema, uma afirmação ou um estado de coisas.
É verdadeiro que o homem inteligente vai direto ao nexo central que o objeto, por si mesmo, oferece à sua visão, enquanto o sonso ou negligente fica saltando em vão de um ângulo a outro, ou, o que é pior, se agarra ferozmente a certas perspetivas costumeiras, deformando o objeto para que se amolde a seus hábitos mentais e crendo apreender uma essência quando não capta senão uma ilusão auto projetiva.
Daí às enormes dificuldades que todos temos em superar pequenos obstáculos, preferindo a opção simplista de transformá-los em enormes barreiras, preferencialmente construindo muralhas intransponíveis, nas quais sejamos capazes de nos esconder, enquanto a vida passa, a realidade ganha novos contornos e o que era para ser perspetiva acabe por se transformar em expectativa.
Inatingível, na maioria das vezes. É o princípio da burrice.