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Os valores e as transformações sociais!

12 Abril 2008 76.378 views Não Commentado

Antonio CasteleiroO presente texto baseia-se na minha perceção íntima, fruto da observação pessoal que tenho realizado frente às inovações, atualmente a jacto, que ocorrem ao longo do tempo.

É um facto que o mundo gira e as transformações sociais são inevitáveis, às vezes para melhor, noutras eu já tenho algumas dúvidas.

Percebo que certas transformações inquietam-me, pois acho natural que mudanças coloquem em xeque alguns valores e conceitos que angariamos ao longo da vida.

Se existem conceitos, obviamente existem “pré-conceitos” e “pós conceitos”, e os primeiros, todos sabemos, são muitos danosos visto que conceções pré estabelecidas geram conflitos e injustiças sociais, alterando a dinâmica das relações e furtando as chances.

Porém, a sociologia mostra que no decorrer dos tempos, há uma transformação dos padrões culturais, tornando a definição dos valores muito relativa num determinado tempo e espaço.

Se a moral também inclui valores, podemos deduzir que a própria moral se transforma ao longo do tempo, sendo de conceito relativo.

Portanto os conceitos de moral e imoral também são dinâmicos.

Mas a ética parece-me algo mais pétreo, pois é algo mais ligado ao carácter, ao respeito pelo direito do “ser ”.

Bem, na verdade arrisquei uma introdução porque ultimamente como pessoa socialmente constituída, tenho sentido uma certa angústia para definir com clareza algumas palavras-chaves como preconceito, valores, moral, ética e Direito.

Sabemos que o Direito está sempre aquém das transformações sociais, como se corresse atrás delas para ampará-las legalmente. Interessante esse movimento…

Porém aqui falo mais do direito Natural, aquele do qual já nascemos fazendo jus.

Atualmente o que defino com mais clareza como ‘pessoa” são os pós conceitos frente às atitudes duma sociedade já constituída, cujos atos podem ser julgados na sequência da sua ocorrência e das suas consequências.

Mas o que eu queria colocar aqui é o nosso valor “social’ e atual de família.

Há uma proposição muito interessante, polémica e delicada colocada na novela global das telas, na qual um casal “trio de três” engravida e constitui o que lá é chamada de uma família “diferente”, aliás uma tentativa flagrante de passar a imagem duma transformação social de “moda”, meio forçada pela tela, e pelo Ibope.

Acho a liberdade algo inviolável, mas a impressão que tenho é que nem a liberdade mais é livre. Tudo é muito manipulado.

Cheguei a perguntar-me se era uma encenação de humor, mas parece que não é.

Esclareço que não se trata de preconceito, apenas de questionamento dos valores atuais do nosso social.

Acredito que podemos ainda questioná-los, ou não podemos?

Bem, o casal de três resolveu ter um filho, cuja identidade genética do pai é uma incógnita, justificada pelo amor entre os três.

O amor justifica tudo, eu sei, mas começo a achar que o conceito do tudo também precisa ser questionado e revisto.

Todos temos direitos. Muito já se ouviu que o nosso termina quando se inicia o direito do outro. Temos o direito da liberdade de escolha.

Temos o direito de sermos iguais e de sermos diferentes, dentro do contexto social.

Temos o direito de existir da melhor forma que nos convier, constituir a família que melhor combina com nossa perspetival de vida, e planejar a família inclusive é algo assegurado ao cidadão.

Porém o que me preocupa é o destino social do fruto de certos “direitos” mais modernos.

Alguma criança, por exemplo, tem o direito de escolha de vir a uma família constituída totalmente fora dos valores dum determinado tempo e espaço?

O direito dos valores adquiridos e sedimentados na sociedade, quem os defende?

Seria ético submeter um ser sem escolha, à vontade e ao julgamento dos “pais “ que resolvem quebrar os valores acatados pela maioria, dentro duma “ordem social’?

Preconceito, qual seria a sua melhor definição? Defender os costumes sedimentados, e o respeito à maneira como se foi constituído como ser social, seria uma forma de preconceito?

A sociedade está preparada o suficiente para a sustentabilidade de tão rápida mudança na sua arquitetura?

Enfim, são perguntas que me tenho feito, frente à tranquilidade aparente como algumas questões tão sérias são levianamente lançadas à apreciação do público.

Há que se ter coragem para questioná-las, porque sei perfeitamente que no mundo atual somos obrigados passar-nos a limpo, sob pena de apedrejamento psicossocial.

Não me importo de ser janela.

Eu trinco, mas não me submeto a vedar os olhos e tampouco embotar o pensamento.