Valores fúteis e inversão de valores !
Sabemos da vida tanto quanto sabemos da morte. No entanto, não nos ensinaram nas escolas sobre as dores, as falências, os desenganos, a saudade e os desencontros. Somos um bando de despreparados para enfrentar os labirintos da vida.
O resultado é que, ao entrarmos na sociedade pós-moderna, confrontamo-nos diariamente com o predomínio de inúmeros valores fúteis. As pessoas passaram a ser avaliadas pelo que representam, e não pelo que realmente são.
Quando se chega a casa de autocarro, o valor é X. Se se chega num Mercedes, o valor é Y.
Os centros comerciais substituíram as catedrais. Hoje, são os templos do consumo que conferem status. Uma percentagem muito reduzida da população pode frequentá-los. Quem não tem possibilidades financeiras nada compra e logo se vê relegado a um estado de exclusão. Essa exclusão não se limita ao acesso a bens materiais, mas também à participação numa cultura que valoriza a superficialidade e a ostentação.
Vivemos numa sociedade tão individualista que alguns valores estão a perder-se. Com facilidade e sem qualquer preparação, avaliamos os outros e esquecemos de nós próprios, desrespeitando as diferenças, quando deveríamos lapidar o nosso lado subjectivo, pensando nas pessoas que nos rodeiam. A empatia, um valor fundamental, é frequentemente sacrificada em prol de uma competição desenfreada, onde o sucesso é medido em bens materiais e status social.
Como seres humanos racionais, não devemos preocupar-nos com coisas fúteis; antes, devemos reorganizar os nossos conceitos e valores morais que nos foram transmitidos ao longo da vida, deixando de lado toda a injúria que paira no nosso inconsciente. É essencial que nos questionemos: o que realmente importa? A busca incessante por aprovação externa ou a construção de relações significativas e autênticas?
E quanto à comunicação social, em geral? É terrível! Um exemplo entre muitos: a televisão. Aquele que assiste à televisão durante a semana inteira está a tornar-se num imbecil. Aos domingos, então, o processo de imbecilidade é ainda mais visível. Por todo o lado, existem muitos imbecis nos comandos da comunicação, nas plateias… Tudo isso é pensado para manipular o nosso eu. Esquemas maquiavélicos que reduzem a nossa capacidade de discernimento. Assim, tornamo-nos presas fáceis nas mãos desses energúmenos.
Até quando fecharemos os olhos para esta cruel inversão de valores? Até que ponto esses desajustes da chamada era neoliberal irão influenciar o nosso bem-estar? Será isso realmente viver feliz?
Não deixemos que as marcas façam de nós pessoas importantes. Sejamos importantes pelas nossas realizações, sejam elas pessoais ou profissionais. Devemos valorizar a autenticidade e a integridade, construindo uma identidade que não dependa da aprovação alheia.
Façamos das nossas televisões e de alguma comunicação escrita simples objectos de decoração. Precisamos de reflectir sobre este processo de pasteurização a que todos nós somos submetidos. Enquanto não nos impedirem de pensar, seremos capazes de transformar os nossos próprios destinos. A verdadeira transformação começa dentro de nós, na nossa capacidade de questionar, de criticar e de agir em prol de um mundo mais justo e humano.
(António Casteleiro)
” Aceito os ignorantes ! Não aceito os que ignoram a própria ignorância. ” (António Casteleiro)