O eleitor é corrupto!?
Nos dias de hoje, em um cenário de crescente desconfiança nas instituições políticas e com os índices de rejeição a políticos a atingirem níveis alarmantes, muitos clamam pela necessidade de restaurar a confiança e a integridade na política. No entanto, surge uma constatação inquietante: o eleitor é corrupto!
Em tempos de crise de representação, em que a polarização política e a desinformação proliferam, qual candidato se atreveria a afirmar, em palanque ou nos programas eleitorais, que não aceita trocar nada por um voto? Às vésperas de mais uma eleição, por que afirmar que o eleitor – e não os políticos, especialmente aqueles que já ocupam cargos e que, muitas vezes, se dedicam a angariar fundos para a próxima campanha – é o verdadeiro corrupto?
A resposta é simples. O eleitor, desencantado e cético, já não acredita em promessas vazias e tem repetido que só votará em quem lhe oferecer alguma vantagem. Essa troca de favores, que muitos consideram uma prática comum, é, na essência, corrupção.
Alguns poderão argumentar: “Se existem quem ofereça vantagens, sempre haverá quem as aceite.” Mas, e se, de repente, desaparecesse a figura de quem oferece algo em troca de voto? Será que ainda haveria cidadãos dispostos a votar apenas porque um candidato é genuinamente comprometido com o bem-estar social, a cidadania, a preservação ambiental e a ética?
O candidato, inocente ou não, arriscaria iniciar um discurso, na abertura do programa eleitoral, afirmando que não pretende pagar ou prometer um tostão para obter o mandato, e que só aceitará assumir um cargo se puder contar com a confiança de pessoas incorruptíveis? Essa postura, embora idealista, poderia ser vista como um choque de moralidade em um sistema que, muitas vezes, parece estar à mercê de interesses pessoais.
A verdade é que a corrupção eleitoral não é apenas uma questão de políticos desonestos; é um reflexo de uma sociedade que, em muitos casos, se conforma com a mediocridade e a falta de ética. Para mudar essa realidade, é necessário um esforço conjunto: cidadãos mais informados e exigentes, e políticos que realmente se comprometam com a transparência e a responsabilidade.
Quem se habilita a correr esse “risco”? A mudança começa com cada um de nós, ao exigir mais e melhor da política e dos nossos representantes.
(António Casteleiro)
” Aceito os ignorantes ! Não aceito os que ignoram a própria ignorância. ” (António Casteleiro)