A sociedade é imoral e hipócrita!
Ao refletir sobre a moralidade que permeia as sociedades e suas constantes transformações ao longo do tempo, chego a uma conclusão inquietante: a sociedade esconde suas hipocrisias sob a máscara da moralidade.
Quando analisamos qualquer período do passado e estabelecemos uma comparação com os dias atuais, percebemos como os conceitos morais evoluíram. O que outrora era considerado imoral, hoje é frequentemente aceito sem questionamento. Alguns justificam essas mudanças como parte da evolução humana, enquanto outros argumentam que representam o amadurecimento da sociedade ao desafiar normas estabelecidas. Contudo, será que alguém se atreveria a afirmar: “Isto não passa de uma nova maquilhagem na velha máscara que todos nós usamos”?
Poderia citar centenas, até milhares de eventos históricos que ilustram essa alteração nos padrões morais. No entanto, não é necessário, pois basta um único exemplo para evidenciar a repetição da essência em todos os outros.
Recordamos uma época em que a palavra de um homem tinha mais valor do que qualquer documento assinado. A desonestidade era considerada uma afronta à moral. Mas os tempos mudaram! Hoje, a aversão à desonestidade diminuiu, e o conformismo se instalou, levando a maioria a encarar essa realidade como algo normal, em vez de ofensivo, abusivo ou, por fim, imoral.
O catolicismo, que outrora se opôs moralmente ao nazismo de Hitler, agora clama por paz entre judeus e palestinos. As normas de conduta moral são estabelecidas em Concílios, dogmas ou até mesmo em publicações que alteram a lista dos chamados pecados capitais. No entanto, questões como a castidade e a pobreza dos padres contrastam com a riqueza bilionária da Igreja Romana. E o que dizer do homossexualismo e da pedofilia que ocorrem nas sacristias, nas casas paroquiais ou em pequenas cidades onde esses líderes religiosos são venerados como deuses?
Falando em pedofilia, recordamos uma época em que era moralmente aceitável colocar crianças em filmes de baixo nível. Pouco tempo depois, uma atriz que contracenou em cenas de sexo com um menino foi elevada à condição de “Rainha dos Baixinhos” e tornou-se a apresentadora infantil de maior sucesso do país.
O protestantismo, por sua vez, aceitou a moralidade de transformar seus líderes em deuses, milionários e bilionários, assumindo a posição de “cabeça e não de cauda”, utilizando distorções do Evangelho para se apresentarem como seres moralmente superiores aos demais mortais. Bispos e outros líderes enfrentam prisões, enquanto casas de milhões de dólares surgem rapidamente para satisfazer desejos egocêntricos, tudo isso aceito moralmente por aqueles que se autodenominam “ovelhas”.
A imoralidade associada ao homossexualismo de épocas passadas deu lugar a uma nova moralidade, manifestada em paradas, festas com arco-íris e uma variedade de desejos que, moralmente, se infiltram em televisões, jornais, revistas, propagandas, filmes e todos os meios de comunicação de massa. O que antes era considerado libertino agora é compreendido como moralmente aceitável por uma sociedade que, de tempos em tempos, redefine seus valores.
Poderia ainda abordar os conceitos morais que certos pais transmitem aos seus filhos sobre drogas, cigarros e bebidas, enquanto eles próprios praticam o oposto, numa educação ditatorial do tipo “faça o que digo, mas não o que faço”.
Assim, “todos vão fingindo viver decentemente”.
Enquanto a moral for vista como uma regra de conduta, as sociedades continuarão a ser hipócritas, e as pessoas continuarão a enganar a si mesmas.
A conscientização sempre foi o melhor caminho. Valores que se estabelecem na vida e para a vida, como a lucidez de mente, onde sou sempre quem sou, independentemente do lugar onde estou, e onde não preciso esconder o que fui, porque simplesmente “já fui”. Onde não é a moda ou algum programa superficial da televisão que determina como devo vestir ou comportar-me.
“A ignorância é vizinha da maldade”, já dizia um provérbio árabe, e assim a coletivização da mente torna-se mais fácil de controlar. A inércia mental produz zumbis culturais e seres hipócritas que se escondem atrás da máscara da moralidade, que, de tempos em tempos, ajustam a maquilhagem com o simples propósito de exibir a face asquerosa de perversidades, egoísmos, vaidades e presunções, mas com uma aparência mais atraente e um poder de persuasão ainda maior.
É fundamental reconhecer que sempre temos mais de uma opção a escolher, mas, lamentavelmente, a maioria opta pela mais cômoda, em vez da mais conscientemente correta. Enquanto muitos continuarem a adotar a regra de não ser quem realmente são, a moralidade permanecerá como um caminho a ser seguido, um deus a ser adorado. E, de tempos em tempos, um demónio imoral será canonizado como um santo moral, enquanto muitos viverão acreditando que a normalidade da hipocrisia mental é aceitável.
A verdadeira transformação social exige coragem para desafiar as normas estabelecidas e questionar a moralidade que nos é imposta. Precisamos de um despertar coletivo, onde a autenticidade e a transparência sejam valorizadas acima da conformidade. A mudança começa com a disposição de olhar para dentro, de confrontar as nossas próprias hipocrisias e de agir de acordo com princípios que realmente ressoem com a nossa essência.
A educação desempenha um papel crucial nesse processo. É fundamental que as novas gerações sejam ensinadas a pensar criticamente, a questionar as normas sociais e a desenvolver uma ética pessoal que não se baseie apenas em convenções, mas em valores universais de respeito, empatia e justiça. Somente assim poderemos construir uma sociedade que não se esconda atrás de máscaras, mas que abrace a diversidade e a complexidade da condição humana.
A tecnologia, por sua vez, pode ser uma aliada nesse processo. As redes sociais e outras plataformas digitais oferecem uma oportunidade sem precedentes para a disseminação de ideias e a mobilização de pessoas em torno de causas sociais. No entanto, é crucial que utilizemos essas ferramentas de forma responsável, promovendo um discurso construtivo e respeitoso, em vez de alimentar a polarização e a desinformação.
A luta contra a hipocrisia e a imoralidade também deve incluir a defesa dos direitos humanos e a promoção da justiça social. É fundamental que nos posicionemos contra todas as formas de discriminação e opressão, defendendo a dignidade de todos os indivíduos, independentemente da sua origem, orientação sexual, religião ou qualquer outra característica. A verdadeira moralidade deve ser inclusiva e abrangente, reconhecendo a riqueza da diversidade humana.
À medida que avançamos nessa jornada, é importante lembrar que a mudança não acontece da noite para o dia. É um processo contínuo que exige paciência, perseverança e resiliência. Haverá desafios e retrocessos, mas cada pequeno passo em direção à autenticidade e à justiça é um passo na direção certa.
Por fim, que possamos cultivar uma visão de futuro onde a moralidade não seja uma imposição, mas uma escolha consciente. Que possamos ser agentes de mudança, inspirando outros a fazer o mesmo, e criando um movimento que transcenda fronteiras e barreiras. A verdadeira transformação começa com a coragem de ser autêntico, de viver de acordo com os nossos valores e de lutar por um mundo onde a hipocrisia não tenha lugar.
Assim, ao olharmos para o horizonte, que possamos sonhar com uma sociedade onde a moralidade seja sinónimo de integridade, onde a hipocrisia seja desmascarada e onde cada indivíduo tenha a liberdade de ser quem realmente é. Que possamos, juntos, construir um legado de autenticidade, empatia e justiça para as gerações futuras. A mudança é possível, e ela começa agora, com cada um de nós.
(António Casteleiro)
” Aceito os ignorantes ! Não aceito os que ignoram a própria ignorância. ” (António Casteleiro)